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Como as tarifas de Trump estão moldando o apetite de M&A entre Brasil e Estados Unidos

  • Foto do escritor: Deallink
    Deallink
  • 31 de jul.
  • 4 min de leitura

A anunciada imposição de tarifas bilaterais pelo presidente Donald Trump, com alíquotas que podem chegar a 50 % sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025, estabeleceu uma conjuntura abrupta que redefine o cenário estratégico de operações transfronteiriças entre Brasil e Estados Unidos. Essa ruptura normativa, longe de afetar somente fluxos comerciais diretos, realinha substancialmente apetite e estrutura de transações de fusões e aquisições (M&A), influenciando valuation, riscos regulatórios e decisões de capital.


Como as tarifas de Trump estão moldando o apetite de M&A

Contexto tarifário e sua lógica política-econômica


  Desde abril de 2025, a nova administração dos EUA elevou o tarifário médio para cerca de 27 %, com picos de até 50 % para parceiros como o Brasil. A justificativa oficial extrapola argumentos estritamente comerciais, incorporando críticas ao julgamento do ex‑presidente Jair Bolsonaro e às decisões do Supremo Tribunal brasileiro, declaradas unilateralmente como antidemocráticas por Trump. Tal motivações políticas aprofundam a incerteza jurídica e reputacional envolta em transações. Na prática, contratos importantes nos setores de cítricos, café, químicos e agroindustrial já vêm sendo cancelados ou adiados. Empresas brasileiras começaram a pausar negociações com investidores estadunidenses, num claro reflexo da deterioração do contexto econômico e institucional. A imprevisibilidade normativa cria um ambiente adverso para planejar ou concluir operações cross‑border.


Impactos sobre o pipeline de M&A Brasil‑Estados Unidos


  Já se registram adiamentos substanciais em transações avançadas, sobretudo no setor agroindustrial. Um fundo de private equity suspendeu negociações com uma empresa brasileira em fases finais de fechamento diante da certeza de que tarifas impactarão drasticamente margens e logística. Além disso, setores como aeroespacial, bens de consumo e agronegócio se tornam objetos de reavaliação cautelosa. Potenciais compradores americanos entendem que o valuation pode ser rapidamente corroído por tarifas, mesmo antes da assinatura, o que estimula negociações mais lentas ou cancelamentos. Investidores incorporam esse risco ao modelo de valuation e impõem cláusulas rígidas de material adverse effect (MAE) e condições suspensivas adicionais.


Reconfiguração do risco em due diligence e estrutura de contratos


  A volatilidade geopolítica obrigou alterações profundas no processo de due diligence: torna‑se imprescindível analisar exposição tarifária futura, possíveis mecanismos de contingência e viabilidade de redes de exportação alternativas. A avaliação de risco agora inclui cenários de retaliação brasileira, reestruturação de cadeias globais e adequação a normas extraterritoriais. Em instrumentos contratuais, cláusulas de ajuste automático de preço (price‑back), mecanismos escrow ou escrow invertido, além de MAE customizadas, passam a ser padrão. A alocação de risco deve contemplar efeitos tarifários retroativos e operações condicionadas à negociação diplomática ou à suspensão das medidas.


Alterações de apetite e setores afetados


  A escalada tarifária imposta pelo governo Trump provocou um realinhamento imediato no apetite por operações de M&A entre Brasil e Estados Unidos, afetando de maneira desigual os setores da economia. Empresas norte-americanas passaram a adotar uma postura mais defensiva diante do risco de comprometimento das margens operacionais em cadeias que dependem de exportações brasileiras. Como reflexo, setores anteriormente dinâmicos em transações — como agronegócio, alimentos processados, químicos e aeroespacial — agora enfrentam uma retração nos movimentos de aquisição, fusão e joint ventures, dada a incerteza regulatória e comercial instaurada.


  • Agronegócio e alimentos: O agronegócio brasileiro, especialmente café e suco de laranja, está sob severa pressão: 42 % do suco exportado tem como destino os EUA, e um aumento tarifário de 50 % sinaliza colapso de demanda e colheitas programadas sem comprador. Isso reduz drasticamente o interesse de investidores norte-americanos em ativos ligados ao agronegócio brasileiro.


  • Químicos e industrias intermediárias: Exportadores químicos já relatam cancelamento de contratos, sobretudo para resinas e fertilizantes. Grandes players como Braskem enfrentam colapsos de receita e incerteza jurídica em seus clientes dos EUA, o que reduz atratividade de aquisições nesse setor.

     

  • Setor aeroespacial e bens industriais: Empresas brasileiras com presença relevante no mercado americano, incluídas Indústrias Aeronáuticas, veem potencial erosão dos contratos e impacto nos componentes exportados, gerando hesitação de investidores norte‑americanos em efetivar compras significativas.

 

Efeitos estratégicos de deslocamento e diversificação


  Na contramão da retração direta em M&A Brasil‑EUA, observa‑se um movimento de diversificação: empresas brasileiras buscam investidores asiáticos ou europeus, especialmente do bloco BRICS, enquanto investidores americanos redirecionam foco para México, Índia ou Sudeste Asiático, onde tarifas são menos agressivas ou inexistentes. Estatais e fundos de investimento americanos começam a preferir ativos em zonas menos expostas às medidas tarifárias, o que afeta diretamente o fluxo de capital para o Brasil. Ao mesmo tempo, empresas brasileiras avaliam fusões ou alianças com grupos em mercados alternativos como forma de proteger receita e evitar vulnerabilidades tarifárias.


Implicações para valuation e estrutura de financiamento


  A sobreposição de risco político e tarifário eleva o custo de capital e reduz múltiplos: discount rates sobem, múltiplos EV/EBITDA são comprimidos e as projeções de fluxo de caixa futuro incorporam stress scenarios tarifários. Isso encarece o custo de aquisição e impacta retornos esperados para investidores americanos. Bancos e fundos se tornam mais rigorosos na aceitação de garantias e seguros de risco político, com equiparação de risco político-tarifário ao nível de risco-país em jurisdições emergentes. As operações passam a exigir senhas de contingência robustas, linhas de crédito sujeitas a gatilhos macroeconômicos e mecanismos de hardship plurilaterais.


Reação diplomática e seus reflexos no ambiente de negócios


  O governo brasileiro declarou que realizou múltiplas tentativas de negociação em maio e junho de 2025, sem resposta oficial do lado estadunidense, o que agrava a instabilidade institucional e retarda decisões de investimento. Em caráter de resposta, o Brasil aprovou uma Lei de Reciprocidade Comercial e ameaça tarifas retaliatórias, ampliando incertezas e instaurando um ambiente que tende a dificultar mais M&A do que viabilizar acordos imediatos. Setores como infraestrutura e finanças, com exposição a recursos estrangeiros, vêm recalibrando planos de internacionalização e captação. A estratégia tarifária radical iniciada por Trump redefiniu profundamente o apetite e o ritmo da interação corporativa entre Brasil e EUA em 2025. O efeito não se restringe a aumentos de imposto: atua como vetor geopolítico, disruptor regulatório e fator de reprecificação sistemática. Empresas e advogados estão adaptando due diligence, contratos e modelos de valor, enquanto investidores redesenham geografias de alocação. O resultado é um pullback no pipeline Brasil‑EUA e uma reorientação estratégica global, com valorização de mercados alternativos que ofereçam menor risco político‑tarifário. Conclui‑se que, até que haja uma estabilização diplomática ou suspensão das medidas, o ambiente de M&A entre os dois países será marcado por controvérsia, cautela e realinhamento estrutural.

 
 

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