TendĂȘncias e Perspectivas do Mercado de M&A no Brasil e AmĂ©rica Latina em 2025
- Deallink
- 15 de out.
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Em 2025, o mercado de M&A no Brasil e na AmĂ©rica Latina transita por um ciclo de recomposição seletiva: menos volume em alguns recortes, tĂquetes mĂ©dios maiores, foco em eficiĂȘncia e diligĂȘncias mais rigorosas. Depois de dois anos de desalavancagem e normalização de preços de ativos, o apetite volta de forma cirĂșrgica, privilegiando alvos com geração de caixa resiliente, governança robusta e sinergias operacionais verificĂĄveis. RelatĂłrios setoriais indicam que, no Brasil, 2024 encerrou com queda de nĂșmero de operaçÔes e aumento do valor agregado, sinalizando concentração em transaçÔes maiores; jĂĄ no inĂcio de 2025, leituras mistas apontam avanço pontual em certos meses, porĂ©m com seletividade ainda elevada por parte de compradores estratĂ©gicos e fundos.

RegulatĂłrio: CVM, CADE e a nova disciplina das ofertas pĂșblicas
A agenda regulatĂłria brasileira em 2025 exerce influĂȘncia direta na estruturação de M&A. A Resolução CVM 215, publicada no fim de 2024, redesenhou procedimentos de ofertas pĂșblicas para aumento de participação e cancelamento de registro, simplificando fluxos e modernizando requisitos. A entrada em vigor ao longo de 2025 tem sido tratada como fator de clareza para transaçÔes que demandam coordenação entre mercado de capitais e aquisiçÔes, especialmente em operaçÔes com free float relevante e eventuais pressĂ”es por saĂda. No controle concorrencial, o CADE intensificou a vigilĂąncia sobre gun jumping. Em setembro de 2025, a autarquia divulgou acordos em processos envolvendo consumação antes da aprovação, reforçando a necessidade de clean teams, clĂĄusulas de standstill e protocolos de integração pĂłs-closing estritamente condicionados ao aval do ĂłrgĂŁo. A linha adotada dialoga com decisĂ”es anteriores sobre cĂĄlculo de multas e aplicação de tetos por percentual do valor da operação, tema revisitado pelo Tribunal em 2024.
Reforma tributåria: precificação de riscos e estruturação de deals
A transição para o novo IVA dual brasileiro, com IBS e CBS, afeta a precificação de passivos e o desenho de estruturas de M&A. O cronograma aponta fases relevantes a partir de 2026 e implementação plena atĂ© 2033, com regras gerais aprovadas em 2024 e normas de transição em discussĂŁo ao longo de 2025. Para compradores, due diligence fiscal redobra a atenção a crĂ©ditos, regimes especiais e potenciais desalinhamentos entre o legado e o regime de destino. Para vendedores, a modelagem passa a considerar efeitos de destino e repartição federativa, alĂ©m de ajustes contratuais nas clĂĄusulas de MAC e escopo de indenizaçÔes. DiscussĂ”es recentes propĂ”em harmonizaçÔes adicionais entre IBS e CBS, incluindo infraçÔes e mecanismos recursais, o que exige clĂĄusulas de alocação de risco mais dinĂąmicas em SPA e TSA. No plano regional, grupos com footprint latino-americano reavaliam centros de custo e cadeias logĂsticas, ponderando impactos de IVA setorial e regimes de incentivos.
DinĂąmica setorial: tecnologia, financial services, energia e infraestrutura
A vertical de tecnologia e serviços financeiros mantĂ©m protagonismo. Movimentos de lĂderes regionais sinalizam ciclos de expansĂŁo e verticalização, com investimentos bilionĂĄrios em logĂstica, dados e produtos financeiros, criando adjacĂȘncias naturais para M&A em adquirĂȘncia, crĂ©dito ao consumo e software de missĂŁo crĂtica. AlĂ©m disso, instituiçÔes digitais avaliam geografias e linhas de produto para escalabilidade e regulação, com iniciativas estratĂ©gicas que reposicionam plataformas e ampliam o escopo de potenciais targets e parcerias. Na transição energĂ©tica, ativos de geração distribuĂda, infraestrutura de transmissĂŁo e soluçÔes de eficiĂȘncia energĂ©tica seguem no radar, favorecidos por contratos de longo prazo e perfis de risco ajustados Ă inflação. Em infraestrutura ampla, concessĂ”es e PPPs alimentam transaçÔes secundĂĄrias, com fundos de pensĂŁo e investidores institucionais buscando duration e indexação. No health care, consolidação permanece ativa, mas sofre maior escrutĂnio concorrencial e regulatĂłrio; teses de verticalização com operadoras e plataformas de prestação integrada exigem governança granular para passagens de dados e compliance LGPD.
Liquidez, valuation e estruturas: pragmatismo e engenharia contratual
A liquidez melhorou de forma marginal, mas permanece sensĂvel ao custo de capital global. Dados do primeiro semestre de 2025 no Brasil sugerem leve contração de volume ante 2024, com predomĂnio de transaçÔes de qualidade e negociaçÔes extensas sobre earn-outs, vendor loans e ajustes de preço por capital de giro. O valuation estabiliza em mĂșltiplos ainda abaixo do pico de 2021, com prĂȘmios para ativos com crescimento orgĂąnico comprovado e retenção de clientes. Estruturas hĂbridas ganharam espaço. Earn-outs atrelados a KPIs operacionais, preferĂȘncias por locked box com proteçÔes adicionais e clĂĄusulas de material adverse change mais detalhadas sĂŁo agora padrĂŁo em setores volĂĄteis. Em carve-outs, o Transitional Services Agreement passa a incluir SLAs de dados, cibersegurança e segregação fiscal, dados os marcos de LGPD e as incertezas tributĂĄrias em transição.
Risco jurĂdico, compliance e integração: liçÔes de 2025
A diligĂȘncia em 2025 intensificou o escrutĂnio sobre riscos de competição, proteção de dados e ESG. O enforcement mais visĂvel do CADE sobre gun jumping elevou a maturidade na condução de clean teams e na definição de perĂmetros de troca de informaçÔes competitivamente sensĂveis. O resultado Ă© a antecipação de protocolos de integração condicionais ao closing e a reconfiguração de covenants de condução do negĂłcio entre signing e closing. A integração pĂłs-closing, por sua vez, deixou de ser um apĂȘndice do business case para virar tese central. Times de integração entram cedo, mapeando sinergias de receita por co-venda, de custo por consolidação de backoffice e de capex por padronização tecnolĂłgica. Em deals cross-border, diferenças contĂĄbeis e prudenciais exigem harmonização de polĂticas e controles, sempre alinhados aos marcos legais locais, inclusive Corporations Law e Securities Law sob supervisĂŁo da CVM.
Perspectiva regional: Brasil como Ăąncora e assimetrias latino-americanas
O Brasil continua a ancorar o fluxo de M&A na regiĂŁo. Em 2024 e inĂcio de 2025, observou-se a combinação de menor volume e maior valor agregado, alĂ©m de transaçÔes emblemĂĄticas em tecnologia e serviços que redefinem cadeias adjacentes. Investimentos recordes de lĂderes regionais, como em logĂstica e fintech, reforçam a tese de plataformas multi-paĂs, estimulando consolidaçÔes e parcerias estratĂ©gicas. Em paralelo, MĂ©xico, ColĂŽmbia, Chile e Argentina atravessam ajustes regulatĂłrios e macro que influenciam inbound, financiamento e prazos de execução. Para 2025, casas internacionais projetam postura ainda prudente, com ĂȘnfase em preparação de ativos, disciplina na due diligence e estruturas contratuais que absorvam volatilidade.
O ciclo de M&A em 2025 no Brasil e na AmĂ©rica Latina é definido por seletividade, sofisticação e execução rigorosa. A remodelagem regulatĂłria com a Resolução CVM 215, o enforcement do CADE em gun jumping e a transição tributĂĄria para IBS e CBS reconfiguram o risco jurĂdico e fiscal, exigindo engenharia contratual mais precisa e governança reforçada. Setores como tecnologia, serviços financeiros, energia e infraestrutura seguem como eixos de consolidação, enquanto consumo e indĂșstria respondem a estĂmulos de eficiĂȘncia e redesenho de cadeias. As estruturas de preço e contingĂȘncias refletem a assimetria de informaçÔes e a necessidade de proteger valor entre signing e closing. A regiĂŁo caminha para um mercado menos exuberante em quantidade, porĂ©m mais robusto em qualidade e geração de valor, em que preparação, diligĂȘncia de dados e integração disciplinada se tornam determinantes para separar boas aquisiçÔes de apostas excessivamente otimistas.










