O processo conhecido como IPO (sigla para “Initial Public Offering”), ou oferta pública inicial em português, é a forma pela qual uma sociedade anônima começa a negociar ações em bolsa de valores.
Em outras palavras, trata-se da primeira oportunidade de uma empresa vender suas ações ao mercado acionário.
O IPO pode concretizar-se de forma primária ou secundária, ou então de maneira mista.
A oferta pública primária se dá com a emissão de ações totalmente novas. Como é a própria empresa quem emite e vende os papéis, os recursos decorrentes da alienação irão diretamente para o seu caixa.
Já a oferta pública secundária consiste na venda de ações já emitidas, de maneira que os recursos resultantes não retornam à empresa (ao menos não diretamente), senão aos acionistas que estão na ponta vendedora da operação.
Em linhas gerais, o IPO é um modo de abrir o capital de sociedades anônimas, oportunizando novas soluções para financiamento e controle da empresa.
Mesmo em meio à pandemia do coronavírus, a B3 registrou números impressionantes de IPOs em 2020 e 2021, batendo recordes dos anos anteriores.
Em 2020, por exemplo, foram realizados 28 IPOs estimados em mais de R$ 43 bilhões, segundo dados da própria B3.
Já em 2021, até o momento, a cifra já supera o montante dos R$ 64 bilhões, com 44 IPOs registrados entre 21 de janeiro e 13 de agosto.
Quais dessas empresas conseguiram se utilizar da capitalização para entregar resultados aos investidores? E quais enfrentaram maiores problemas em virtude da crise pandêmica?
Afinal, valeu a pena investir nas empresas que fizeram IPO em 2020 e 2021?
Nota metodológica
Antes de oferecer uma resposta ao questionamento, convém trazer alguns critérios objetivos para avaliar o retorno dessas empresas.
A depender da estratégia de investimento, pode valer a pena um avanço momentâneo e mesmo precário do preço das ações. Isto porque, em estratégias em curto prazo, o retorno rápido e especulativo é mais valorizado.
Por outro lado, a médio e longo prazo, os fundamentos da empresa são mais importantes, bem como o potencial de suas ações como hedge contra a inflação.
No caso das empresas que fizeram IPO, os cases de sucesso e crescimento estão inevitavelmente atrelados à entrega dos resultados prometidos no processo de oferta inicial, em especial fusões, aquisições e integração
Após um ano de listagem, é possível começar a vislumbrar o desempenho da companhia em longo prazo, uma vez que já se começa a evidenciar o perfil de estabilidade da empresa.
Quanto aos IPOs que ainda não completaram um ano, tirar conclusões quanto aos seus resultados até agora pode não oferecer muito insight da empresa no longo prazo, devido à amostra de dados ser ainda insuficiente.
Neste texto, iremos dar ênfase ao desempenho da ação em longo prazo, não obstante as limitações acima descritas.
IPOs em 2020
Conforme mencionado, o volume total de IPOs em 2020 girou a ordem dos R$ 43 bilhões, diluídos por 28 empresas.
Em média, o resultado agregado de todas as ações inicialmente ofertadas em 2020 foi positivo: 18,75% de crescimento.
Os setores que tiveram os melhores resultados foram logística e tecnologia (“Programas e Serviços”), com Locaweb (LWSA3) e Meliuz (CASH3) tendo resultados altamente promissores: aumento de 350,39% e 270,99%, respectivamente.
Em seguida, as empresas que tiveram os melhores resultados foram 3R Petroleum Óleo e Gás (RRRP3), do segmento de “Exploração, Refino e Distribuição”; Track Field (TFCO4), do setor de “Vestuário”; e Ambipar, que atua em “Água e Saneamento”.
Seus desempenhos foram, respectivamente, de crescimento de 104,81%, 68,84% e 56,88%.
Já os três piores desempenhos ficam na conta das construtoras, do segmento “Incorporações”: Plano & Plano (PLPL3), Mitre Realty (MTRE3) e Moura Dubeux (MDNE3).
Suas ações perderam, respectivamente, 59,67%, 60,10% e 60,52% de seus valores.
O último IPO de 2020 ocorreu em 18 de dezembro (Neogrid), de modo que já se passou cerca de um ano. Assim, conseguimos ter uma melhor visão do conjunto.
No agregado, valeu a pena investir nas empresas que fizeram IPO em 2020. Isso porque, embora 14 das 28 empresas tenham apresentado um resultado negativo até agora, aquelas que entregaram resultados positivos trouxeram ganhos significativos aos investidores.
IPOs em 2021
Em 2021, a B3 bateu recorde de IPOs, batendo a cifra dos R$ 63 bilhões, entre 44 companhias.
O último IPO registrado em 2021 ocorreu em 13 de agosto, isto é, menos de 6 meses atrás. Desse modo, é importante reiterar que as conclusões a serem tiradas desta amostra de dados devem ser consideradas conforme seu peso estatístico.
Em todo caso, o resultado agregado dos IPOs de 2021, até agora, mostrou-se baixista: 12,19% de redução de valor.
De destaque, temos os setores de “Computadores e Equipamentos”, “Água e Saneamento”, “Minerais Metálicos” e "Eletrodomésticos''.
A melhor estreante, Intelbras (INTB3), quase dobrou o valor de suas ações, com uma alta de 97,59% desde a oferta inicial em 04 de fevereiro. A empresa atua no setor de computação e tecnologia.
Em seguida, temos o Grupo GPS (GGPS3), que experimentou uma alta de 38,75% em suas ações desde a primeira venda em 26 de abril. O Grupo GPS atua com participações acionárias em diversos segmentos, a exemplo de indústria, serviços e infraestrutura.
Em terceiro lugar, as ações da Orizon Valorização de Resíduos (ORVR3) tiveram uma subida de quase um quarto (23,68%), sendo que a companhia trabalha no setor de saneamento básico.
Os segmentos que tiveram o pior desempenho até agora foram “Programas e Serviços” e “Equipamentos e Serviços”.
A pior debutante foi a Mobly (MBLY3), que teve suas ações desvalorizadas em 67,10% desde o IPO em 5 de fevereiro. A Mobly atua no setor de móveis e artigos de decoração.
A segunda pior foi a Westwing (WEST3), com queda de 65,08% no preço das ações ofertadas. Sua oferta inicial foi em 10 de fevereiro. Seu ramo de atuação é o comércio varejista.
Por fim, a terceira pior companhia foi a Oceanpact (OPCT3), cujas ações caíram 64,66% desde a oferta inicial, que também ocorreu em fevereiro, no dia 12. A companhia trabalha na área de serviços marítimos.
Em conclusão, o saldo dos IPOs deste ano demonstra que não valeu a pena investir nas empresas estreantes de 2021, ao menos até agora.
Com efeito, das 44 companhias que fizeram oferta inicial, 29 tiveram suas ações desvalorizadas, ou seja, mais da metade (65,90%).