O mercado de fusões e aquisições, da sigla em inglês M&A, é altamente afetado por diversos fatores. Câmbio, taxa de juros e até mesmo instabilidades políticas ao redor do mundo. Afinal, é um investimento de alto risco e que deve ser realizado apoiando-se em uma sólida estratégia.
O mundo possui guerras localizadas há muito tempo, porém, longe de centros estratégicos. Agora que falamos em um dos maiores países do mundo, o cenário é diferente. É preciso compreender como esse cenário é capaz de impactar os negócios no dia a dia.
Dessa forma, criamos um conteúdo exclusivo para que você compreenda os impactos da guerra nas transações de M&A, e se há alguma expectativa negativa para esse mercado.
Confira!
Como uma guerra impacta as transações de M&A
É um fato que esse mercado é extremamente sensível à volatilidade. Porém, mesmo com crises políticas e econômicas é possível aprender com o passado e se preparar melhor para uma nova realidade.
Historicamente o mundo é um lugar relativamente previsível. Não podemos saber em detalhes, mas temos vagas ideias dos rumos no curto-prazo. Porém, essa lógica é subvertida em um cenário de guerra.
Guerras costumam ser motivadas por duas razões. Orgulho, ou poder. Quando um país declara uma guerra contra outro, independente de juízo de valor, ele se torna o agressor para o cenário internacional.
Quando falamos em regimes autocráticos, vencer a guerra é mais importante do que a própria sobrevivência, uma vez que a sobrevivência política depende desses resultados. Os líderes mundiais sempre estão dispostos a sair no prejuízo se isso significar a vitória.
Essa é a razão pela qual as guerras são imprevisíveis. Nesse caso, entre Rússia e Ucrânia, estamos falando sobre o maior fornecedor de gás e petróleo para a Europa, um dos centros econômicos do mundo. Portanto, como já podemos perceber, as commodities estão extremamente voláteis desde o início do conflito. Assim, as decisões de investimento são influenciadas, justamente pela incerteza sobre o futuro.
O cenário das transações de M&A
De acordo com levantamento realizado pela CNN Business, o ano de 2021 fechou com recorde de mais de US$ 5 trilhões em transações de M&A ao redor do mundo, e a expectativa era para o crescimento ainda mais expressivo no ano seguinte.
No entanto, segundo matéria publicada pela revista Valor Econômico, esse mercado já está sentindo e absorvendo os impactos da guerra no leste europeu. Nos primeiros 20 dias de conflito não houve nenhum cancelamento de acordo, porém, a maioria passou por reajustes nos preços e nos termos de contrato.
Paralelamente, a América Latina está mais segura nesse sentido, justamente pelo fato de estar geograficamente distante da guerra, e por ser um foco produtor de commodities. Um sinal claro é o avanço da bolsa brasileira e a queda do dólar ao longo de março de 2022 com a entrada de investidores estrangeiros.
Outro exemplo importante foi o encerramento das negociações entre a empresa de energia Eneva e a Petrobrás para a venda de um polo exportador de petróleo da estatal. A reportagem afirma que uma das razões foi o aumento expressivo dos preços do barril de petróleo nas últimas semanas, de modo que as empresas não chegaram a um consenso em relação ao valuation.
Guerra e o Risco Brasil
O mercado de capitais vem crescendo exponencialmente no Brasil nos últimos anos, e mesmo com a instabilidade política e jurídica, continua sendo um campo fértil para os investimentos.
Com o aumento da taxa de juros, somado à desvalorização excessiva da moeda no ano passado, os investidores internacionais buscam o Brasil como ativo de risco. Ou seja, mais dinheiro passa a circular nesse meio.
De acordo com o Valor Econômico, as maiores preocupações dos investidores do mercado de M&A no Brasil estavam centradas na corrida eleitoral de 2022. Quem estava vendendo queria acelerar o processo para não ser afetado pela volatilidade que certamente se fará presente no segundo semestre do ano.
Porém, com a guerra, ambas as partes se tornam mais receptivas à ideia de protelar ao máximo essa decisão, para até o final de 2023. Em outras palavras, o risco Brasil se tornou apenas mais um fator nesse cálculo, mas certamente não é o mais importante na visão dos investidores privados entrevistados pela revista.
Mercados em ascensão ou declínio
De acordo com o portal Bloomberg, o mais importante para os investidores americanos, a guerra está gerando consequências que a Rússia não esperava. O mais importante é o fortalecimento da União Europeia e da OTAN.
Para se ter uma ideia, a Alemanha, a maior dependente do gás natural russo na Europa ocidental, saiu da sua tradição pacifista para investir em armamento e a criação de um exército forte. Inclusive foi uma das maiores contribuintes para financiar o lado ucraniano na batalha, mesmo não se envolvendo diretamente.
O professor de relações internacionais Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas, afirma que a Europa deverá passar por uma reformulação energética urgente. Ou seja, crescem os investimentos em usinas nucleares e fontes renováveis.
Dessa maneira, enquanto as empresas relacionadas ao mercado de commodities passam por uma turbulência que pode atrasar os processos de fusões e aquisições, o setor de energia se tornou primordial.
Empresas inseridas nesse meio tendem a ser as maiores beneficiadas quando falamos em valuation, enquanto, os compradores interessados deverão desembolsar mais dinheiro para concretizar o investimento.
É claro que nesse mercado nada é exato. Para algumas empresas pode ser extremamente vantajoso se unir a companhias produtoras de commodities. Ao mesmo tempo que o investimento em energia pode não fazer sentido para outras.
O mercado de M&A vem crescendo anualmente de maneira consistente ao redor do mundo. A guerra certamente reduz essa velocidade, mas não há uma expectativa concreta para afirmar que ele deverá encolher.
Com um cenário de alta de juros ao redor do mundo, somado ao risco Brasil e os impactos de uma guerra no maior fornecedor de uma commodity para um dos maiores mercados do mundo, o M&A se torna muito mais estratégico.