Ninguém espera por uma pandemia, principalmente por uma de grandes proporções, como essa desencadeada pela Covid-19. No início, tudo era muito incerto. Mas de 2020 para cá, é fato que um cenário de crise mundial começou a se desenhar em diversas direções. Hoje, estamos na iminência de uma recessão global que também afeta o mercado de fusões e aquisições.
De acordo com os registros mais recentes desse segmento, a redução das operações do primeiro semestre de 2022 superou os 25%. Resta, é claro, saber quais são as origens por trás desse número, que explicam a desaceleração da economia.
Confira os principais elementos a serem considerados para que a avaliação do contexto e as próximas projeções sejam as mais nítidas possíveis.
Inflação e aumento da taxa de juros
Em 2021, o pior momento da pandemia da Covid-19 já havia passado, mas as incertezas econômicas ainda ditavam a tônica dos discursos dos bancos centrais. Nos Estados Unidos, inclusive, o FED (Federal Reserve) já vinha ensaiando uma possível mudança de sua política monetária.
Para muitos especialistas em economia, a constante injeção de recursos na economia feita pelo banco central americano deveria ser revista. Outros, entretanto, viam os aportes financeiros como uma forma de proteger a economia global e manter as transações — na medida do possível.
O grande problema é que, em meio a tudo isso, a inflação americana começou a dar indícios de que subiria em breve. A previsão se confirmou e, mais recentemente, o índice atingiu e ultrapassou o patamar dos 9%. Para se ter uma ideia do quão essa porcentagem é alta, basta lembrar que é a maior dos últimos 40 anos.
Como todos nós sabemos, um dos antídotos para combater a inflação é o quase inevitável aumento da taxa de juros. No seu ritmo, foi o que o FED passou a fazer. Até o momento, o índice segue a 2,25% a. a., com meta de fechar o ano na casa dos 2,5%.
A partir daí, o financiamento empresarial se tornou caro e, muitas vezes, inviável para uma parcela das empresas. Em resumo, ficou mais difícil investir. Mesmo as organizações com caixa reforçado decidiram rever alguns planos e esperar pelos próximos capítulos.
Guerra na Ucrânia
Entre as cores que pintam esse quadro, outro complicador veio à tona: a guerra na Ucrânia. O conflito segue em frente, com uma duração que já se aproxima do sexto mês. Para entender o peso do combate entre russos e ucranianos na inflação mundial, precisamos recordar a atuação desses países em determinados mercados.
Basicamente, a logística da cadeia de produção já havia sido bagunçada pela Pandemia e piorou com o embate no leste europeu. Isso porque os dois países respondem por cerca de 30% de toda a demanda de trigo no mundo.
Soma-se a isso o fato de que a região do conflito é justamente aquela por gerar boa parte dos fertilizantes utilizados em áreas agrícolas. Com o impacto na produção por conta da escassez dos produtos, os preços sobem e , naturalmente, a taxa de inflação segue a mesma rota.
Do lado russo, precisamos destacar que o país exporta o maior volume de gás natural do mundo. Além disso, a Rússia ocupa o terceiro lugar em exportação de petróleo. À medida que as sanções do Ocidente prevalecem sobre as transações comerciais feitas com itens russos, os preços permanecem altos e instáveis.
Crise vira oportunidade para o mercado de fusões e aquisições do Brasil
A reunião de todos esses elementos mencionados anteriormente contribui para um período de recessão econômica global. De uma forma ou de outra, o momento também afeta o mercado de fusões e aquisições. Porém, sempre é válido ressaltar que a fase ruim não é para sempre.
No fundo, as projeções são otimistas, ao menos quanto à estabilização de preços. Para diferentes analistas, o valor das commodities agrícolas não têm mais tanta abertura para continuar aumentando. A avaliação é feita, inclusive, com a probabilidade de extensão da guerra na Ucrânia.
Também é verdade que a retomada do equilíbrio registrado antes do conflito e do período pandêmico leva tempo. De modo geral, a expectativa é de que as cotações dos produtos se estabilizem aos poucos. Outro ponto importante a se observar é que esse movimento acontecerá simultaneamente com a reestruturação da cadeia logística e de produção.
E é aqui que entra em cena outro fator favorável ao mercado: a tendência de centralização de processos e fortalecimento de mercados locais. Embora o mundo globalizado deva permanecer, muitos aspectos do atual formato já estão sendo revistos. Os custos ainda ficarão na base de requisitos relevantes para futuras negociações, mas os riscos operacionais ganharão mais relevância na análise.
Isso é bom porque os países farão um esforço maior para fechar negócios com mercados mais próximos e que ofereçam mais segurança. Vale dizer que, aqui, segurança não é um termo que se restringe à probabilidade de conflitos armados, algo extremamente baixo no caso do Brasil.
É igualmente pertinente destacar que a alta volatilidade das ações é acompanhada de perto pelos gestores. Nessas condições, os papéis perdem o valor na hora de negociar tratativas de fusões e aquisições. Porém, o prognóstico aponta para o retorno das transações internacionais, puxadas por um dólar forte.
No Brasil, é praticamente consenso que a conjunção dos fatores cria uma excelente oportunidade para atrair capital. Com uma base política e econômica estável, o país tem tudo para gerar inúmeras oportunidades de grandes negócios nos mais variados segmentos.
Desse modo, as fusões e aquisições permanecem em pauta, com investidores e gestores de olho em eventuais chances de fechar ótimas negociações. Dada a política monetária vigente do FED, fica apenas a ressalva de que todos aguardam e já se preparam para uma mudança de ciclo.
Em outras palavras, a ocasião é perfeita para já planejar o mercado de fusões e aquisições para o próximo ano. Afinal, o volume de negócios deve subir novamente devido ao encerramento das altas de juros do FED. Então, é preciso atenção e organização para tomar decisões de maneira ágil e absolutamente estratégica.
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