Quando falamos sobre o mercado de M&A é preciso ter muito cuidado com as fontes de pesquisa. Afinal, cada uma possui uma visão diferente sobre esse tipo de negociação, realizando a contabilidade de maneiras diversas.
De acordo com a consultoria Dealogic, em matéria publicada no Valor Econômico, o Brasil movimentou cerca de 517 bilhões de reais em 2021 nas transações de M&A. Porém, segundo levantamento da consultoria Kroll, na mesma reportagem, o número passou de 600 bilhões.
Portanto, independente da fonte utilizada, os anos de 2020 e 2021 foram de recordes sucessivos nesse mercado que visa a consolidação de modelos de negócio e a dominação de determinados nichos.
Considerando as instabilidades do mercado financeiro e essa tendência latente de alta, criamos um conteúdo exclusivo com as perspectivas para o segundo semestre de 2022.
Confira!
O Risco Fiscal e político no mercado de M&A
O ano de 2022 já começou com um baque como resultado da inflação acumulada no ano, assim como os sucessivos aumentos na expectativa de aumento do índice para 2022.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária, o COPOM, no início de maio, a taxa básica de juros, a SELIC, subiu um ponto percentual, fechando em 12,75% ao ano. A maior, e quase quebrando o recorde, desde o fechamento de 2016.
Com isso, a expectativa do banco central é de retirar os estímulos da economia para frear a inflação. Esse mesmo movimento acontece ao redor do mundo, com atenção especial nos Estados Unidos, o mercado que dita os rumos do restante do planeta.
Com a economia americana aumentando o seu diferencial de juros e novas ondas de coronavírus se espalhando pela China continental, os investidores ficam receosos e cobram um prêmio maior para realizar investimentos e controlar o risco.
Assim, o mercado de capitais, ou a bolsa de valores, é o primeiro a sofrer o impacto.
Quando falamos no Brasil, temos um problema que acentua esse movimento de medo ao risco, que são as eleições gerais em outubro, jogando ainda mais incertezas no mercado nacional.
Perspectivas do mercado de M&A em 2022
O mercado de M&A funciona com uma lógica diferente dos investimentos em bolsa de valores. Afinal, trata-se da junção de duas empresas, ou da compra de um como maneira de agregar valor ao negócio resultante desse movimento.
Com todo o risco que mencionamos anteriormente, as ações e o próprio índice BOVESPA amargam perdas substanciais desde o final do ano passado. Assim, as empresas que pretendiam abrir o capital em um IPO na Bolsa de São Paulo, deram alguns passos para trás.
Segundo o Itaú BBA Investimentos, das 30 a 40 empresas que planejavam o seu IPO em 2022, não sobrou nenhuma desde que os indícios de mau humor nos mercados começaram a se instalar em setembro de 2021.
Assim, para se capitalizar elas precisam pensar de outras maneiras, e o investimento privado tende a ser a melhor alternativa, principalmente quando consideramos a curva ascendente de juros, o que aumenta o custo da dívida.
Com os preços das ações caindo vertiginosamente, é de se esperar que os grupos consolidadores saem às compras para garantir os melhores negócios. Afinal, com a queda na cotação, as empresas saem mais baratas do que inicialmente previsto.
Da mesma maneira, com a desaceleração na economia, essas mesmas empresas ao encontrar dificuldades em crescer de maneira orgânica com a sua base de cliente, poderão buscar no mercado de M&A uma estratégia para expandir a sua produção ou área de atuação.
Queda no crescimento
O mercado de M&A está em uma alta consistente desde 2016, com empresas buscando outras no mercado que possam agregar valor ao seu negócio, seja com uma boa carteira de clientes ou know-how em uma área complementar.
No entanto, a perspectiva para o segundo semestre de 2022 é uma queda no número de ofertas, porém, mantendo o viés de alta no final das contas.
Há uma impressão falsa de que as empresas que saem às compras estão dispostas a pagar qualquer valor para conseguir fechar um negócio. No entanto, com o aperto dos estímulos fiscais, elas estão menos dispostas a fechar parcerias que não sejam altamente estratégicas.
Na outra ponta, segundo a área de investimentos do Santander, as empresas listadas em bolsa, na média, estão com uma boa saúde financeira, sem estarem alavancadas em um nível comprometedor, assim, também não estão desesperadas por dinheiro de investidores privados.
Ainda, nesse cenário, precisamos considerar os fundos estrangeiros de private equity.
Apesar de o real ter tomado um fôlego ao longo de abril, chegando a R$ 4,62, a moeda segue em rota de desvalorização frente ao dólar.
Isso significa que, para o investidor internacional, as empresas brasileiras estão muito mais competitivas para o capital de risco. Mesmo considerando os desafios políticos e fiscais, esses fundos possuem em mercados emergentes as suas maiores possibilidades de gerar uma boa rentabilidade aos seus acionistas.
Nesse caso, é esperado um crescimento importante e significativo nas aquisições de empresas brasileiras por companhias estrangeiras que desejam se consolidar no mercado latino-americano, assim como dos próprios fundos privados, com foco na área tech e de saúde.
Por fim, precisamos fazer uma distinção. No que se refere às perspectivas do mercado de M&A, temos dois indicadores: O número total de operações e o volume financeiro movimentado.
De acordo com Itaú BBA, o número total de operações tende a se manter constante, muito próximo da estabilidade com algumas oportunidades de crescimento.
No entanto, para o volume financeiro, é esperada uma queda significativa, uma vez que apenas negócios altamente consolidados estarão no jogo, ao mesmo tempo que as empresas a serem compradas precisarão oferecer um desconto em sua precificação.
Portanto, especialistas afirmam que o mercado de M&A tende a ser mais calmo no segundo semestre de 2022, principalmente pelos riscos políticos e a incerteza em relação aos mercados, tanto emergentes quanto desenvolvidos.
No final das contas, é esperado que o número fique próximo da estabilidade, porém, com excelentes oportunidades no meio do caminho.
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