É um fato que 2020 foi um ano incomum para o mercado, de modo que muito se discutia ao tentar descobrir o que seria o normal após a pandemia. Dois anos se passaram e as empresas se deram conta que esse evento global mudou completamente os rumos da economia, e ela tende a seguir esse formato por muito mais tempo.
Se em 2020 o número de health techs mais do que dobrou, a pandemia foi um período de consolidação do mercado. Assim, criamos esse material exclusivo para que você entenda como os M&As aquecem o setor de saúde.
Boa leitura!
Consolidação do mercado da saúde
O mercado da saúde nasce fragmentado, mas a tendência é de se consolidar em todo o mundo. Os principais movimentos de fusões e aquisições realizados no Brasil nos últimos anos dentro dessa área, dizem respeito à verticalização das empresas.
Isso significa que planos de saúde, por exemplo, passam a atender os clientes em hospitais e clínicas próprias, o que amplia a sua margem operacional com a redução de repasses a terceiros.
Segundo o portal Noomis, mantido pela Federação Brasileira de Bancos, a FEBRABAN, o ano de 2020 deve ser compreendido como um momento de mudança para esse mercado que já representa 10% do PIB nacional.
Com a modernização de travas regulatórias, esse setor foi desbloqueado e está aberto à inovação e atualização dos seus modelos de negócios. De fato, para o Health Tech Report 2020, da consultoria Distrito, em 2020 o número de startups da saúde cresceu 118% no país.
Dessas, 25% estão relacionadas à gestão de clínicas e hospitais, 17% ao acesso a informações, 13% em marketplaces e 10,5% na linha farmacêutica e de diagnósticos.
É preciso ter em mente que uma empresa grande e consolidada enfrenta mais desafios para se modernizar e inovar. Assim, as negociações para fusão e aquisição tendem a encontrar um cenário promissor.
Conforme dados compilados pelo jornal Estadão, desde o início de 2021 até a primeira quinzena de março de 2022, foram mais de 150 negociações desse tipo, movimentando cerca de R$ 21 bilhões.
Vantagens competitivas do M&A
O movimento de consolidação de qualquer setor é acompanhado de perto pelas micro e pequenas empresas justamente por significar um domínio do mercado endereçável. A NotreDame Intermédica e a HapVida, por exemplo, antes de se fundirem, já dominavam cerca de 20% do market share em planos de saúde.
Antes de se juntarem contavam com departamentos específicos para encontrar os melhores negócios e verticalizar os processos. Isso significa que o seu controle de custos é facilitado, podendo oferecer planos de saúde e serviços mais baratos e competitivos do que os seus concorrentes.
Ao contrário do que muitos acreditam, a pandemia teve um efeito nocivo para os hospitais. Com a suspensão das cirurgias eletivas, de acordo com a consultoria internacional PwC, uma importante fonte de receita foi cessada. Isso significa que essas empresas entraram em uma crise econômica já com problemas de caixa.
As empresas com um caixa mais sólido e com recursos reservados para investimentos aproveitaram esse momento. No entanto, a PwC destaca que é um movimento em fases iniciais. Ainda há muito chão para percorrer.
Um dos maiores receios do mercado em relação à concentração na área da saúde, é que essas gigantes passem a engolir as menores em todos os segmentos, mesmo em faixas de renda mais altas, nas quais o preço não é um diferencial competitivo.
Dessa maneira, é um ciclo que se retroalimenta. Segundo a Polo Capital, gestora de fundos que aporta em Mater Dei e Kora, essas duas empresas deveriam se fundir imediatamente para não serem engolidas.
Ou seja, mesmo grandes players podem se sentir ameaçados, o que os força a entrar no mercado do M&A para encontrar boas oportunidades.
Crescimento das healthtechs
Anteriormente mencionamos a importância das startups da saúde quando falamos em movimentos de fusão e aquisição. No entanto, é preciso ter um enfoque sobre as dificuldades de inovar na área da saúde.
Segundo Daniel Greca, da consultoria KPMG, a maior dificuldade está relacionada às resistências de todas as partes interessadas.
A telemedicina, por exemplo, autorizada e regulamentada pelo Projeto de Lei (PL) 696/2020 ainda enfrenta pacientes reticentes quanto à eficácia desse modelo de prestação de serviços.
Assim, para as grandes empresas que pretendem expandir para outras áreas, a melhor estratégia é agregar ao seu quadro outras marcas que já possuem a expertise e um modelo funcional rodando.
O Grupo Fleury, por exemplo, lançou a plataforma Cuidar Digital. Esse espaço é dedicado às consultas online e à facilitação do compartilhamento de informações entre médicos, pacientes e operadores de planos de saúde.
A empresa de pagamentos Stone, em 2020, anunciou a compra da Healthtech Vitta, com o objetivo de fornecer planos de saúde e outros tipos de seguro pessoal em suas plataformas. Esse movimento é seguido por outras fintechs, como Banco Inter e o Nubank.
Já a Mater Dei, que por enquanto segue sozinha no mercado, oficializou a compra de um hospital em Minas Gerais, com o objetivo de testar a penetração do serviço no estado. Esse movimento pode ser um prenúncio para novas aquisições no futuro.
Outro exemplo importante que deve ser ilustrado é são os movimentos da Rede D’Or para a sua consolidação. Com a compra de hospitais, o seu objetivo de verticalização é claro. Porém, o M&A mais importante diz respeito à incorporação da SulAmérica, operadora de planos de saúde.
Especialistas afirmam que o objetivo dessa fusão foi, na verdade, atingir um marketshare mais expressivo. Afinal, os clientes de renda mais alta não desejam apenas preços mais competitivos, mas também serviços diferenciados em hospitais de referência, como o Albert Einstein e o Sírio-Líbanes.
O setor da saúde é, naturalmente, travado. Os movimentos acontecem aos poucos e com muita estratégia. Note que o objetivo nem sempre é verticalizar as operações, mas conquistar uma presença mais sólida em determinadas regiões ou nichos.
O M&A movimentou o setor de saúde, e tende a ser essencial para os próximos passos na consolidação do setor.