As transações de M&A são altamente estratégicas para conquistar mercado, verticalizar processos ou até mesmo inovar em áreas específicas do negócio. Dessa maneira, podem ser vantajosos ou desastrosos de acordo com os procedimentos e modelagens adotados.
Ao ler as manchetes sobre transações milionárias, corremos o risco de esquecer M&As que deram errado e que servem de lição para todo investidor privado ou institucional. Confira os cases mais conhecidos e emblemáticos!
Por que M&A pode dar errado?
Existem inúmeras razões pelas quais uma transação pode acabar sendo um desastre, e a maioria delas não é previsível nos primeiros contatos entre as partes interessadas. Esses desafios vão se tornando mais evidentes com a rotina de trabalho e os encontros se tornando cada vez mais frequentes.
De nada adianta falar sobre M&A que deram errado sem analisar a fundo as razões para que isso tenha acontecido. Dessa maneira você se prepara para analisar as oportunidades com maior atenção e cuidado.
Google e Motorola
A compra da Motorola pelo Google foi uma das transações mais aguardadas em 2012, que movimentou 12,5 bilhões de dólares. O timing escolhido pela empresa de Larry Page e Sergey Brin foi em um cenário de desvalorizações consecutivas no valuation da Motorola. Inclusive, conforme publicação da revista Exame, à época os acionistas estavam reticentes quanto a essa decisão.
Após prejuízos em sequência em todas as áreas da Motorola, contaminando os resultados do Google, ela acabou por ser vendida dois anos mais tarde à chinesa Lenovo, novamente com ressalvas por parte dos acionistas e dos consumidores.
As razões para esse erro de cálculo estavam relacionadas ao desencontro entre as culturas organizacionais e o desalinhamento das expectativas. Com a aquisição, o Google esperava ter acesso a mais de 15 mil patentes da Motorola para entrar no mercado de smartphones topo de linha. Porém, a Motorola seguiu em um caminho contrário, seguindo com aparelhos medianos, enquanto o Google pisava no acelerador com os seus smartphones Nexus.
Boeing e Embraer
A norte-americana Boeing e a empresa brasileira Embraer haviam anunciado, em 2018, um acordo de fusão que movimentaria aproximadamente 5,2 bilhões de dólares. Nessa nova empresa, resultado da soma das duas, a primeira ficaria com o controle de 80% das operações, enquanto a segunda, com os 20% restantes.
O primeiro problema mais evidente, e que foi amplamente levantado por comentaristas de economia, teria sido o baque sofrido pela Boeing com a pandemia de coronavírus no início de 2020. Esse movimento teria afetado seriamente o caixa da empresa, e esta não poderia arcar com os custos de aquisição.
Após a rescisão do contrato, a Boeing divulgou que a Embraer não cumpria os requisitos necessários para a transação, e esta respondeu que essa foi apenas uma desculpa.
Atualmente a fusão ainda é debatida, porém, com pouca penetração. De acordo com a Organização Social da Embraer, para que mais de 35% da empresa seja vendida, é necessária aprovação da União. Nesse cenário, com intensa instabilidade política, é difícil ver um futuro promissor, pelo menos no curto-prazo.
eBay e Skype
Em 2005 o Skype era uma tecnologia revolucionária de ligação via internet, o chamado Voip. Dessa forma, o eBay acreditou ser uma excelente aquisição para melhorar o contato entre os vendedores e clientes da sua plataforma. A mesma razão pela qual comprou o PayPal alguns anos antes.
A transação foi firmada em mais de 2 bilhões de dólares, e mesmo com o Skype mantendo a sua lucratividade, significava apenas um peso a mais para o marketplace. Na prática, os usuários não estavam interessados em telefonar para resolver os problemas. As caixas de comentários e os e-mails eram mais do que suficientes para solucionar qualquer desentendimento.
Logo, o principal desafio nessa integração foi justamente o fato de o eBay não compreender exatamente os desejos dos seus clientes. Para a TMCnet, essa plataforma havia se consolidado justamente por não ser necessário interagir com a outra parte para fechar um negócio.
Porém, precisamos pontuar que outra questão crucial foi a falta de fit cultural. Enquanto o eBay era mais sério e conservador, aos moldes de um banco altamente burocrático, o Skype tinha como premissa democratizar o acesso aos meios de comunicação.
No fim, o Skype foi vendido para investidores privados pelos mesmos 2 bilhões de dólares, porém, o eBay permaneceu com 30% do controle da empresa.
Microsoft e Nokia
Em 2013 a Microsoft finalizou uma aquisição que custou cerca de 7,6 bilhões de dólares, comprando a japonesa Nokia. O objetivo era entrar no mercado dos smartphones topo de linha, ao lado da Apple e do Google, porém, a falta de planejamento e alinhamento acabou com os planos.
Na época, a Microsoft dominava os mercado de computadores de mesa com um sistema operacional altamente intuitivo, prático e de fácil assimilação. Com a Nokia, o objetivo era criar celulares de ponta com toda essa infraestrutura de software. Porém, foi essa proposta que dificultou o processo.
A principal crítica feita aos produtos resultantes dessa fusão era a dificuldade em sincronizar os aparelhos com os computadores da marca, ao mesmo tempo que o sistema era pesado, de difícil codificação e problemático para a criação de aplicativos móveis.
A Nokia já chegou a dominar 40% do mercado de celulares no mundo, e essa foi a aposta da empresa de Redmond. Porém, os produtos das marcas não conversavam entre si, gerando prejuízos a cada ano.
Em 2016 a revista Olhar Digital publicou uma matéria sobre os impactos desse M&A desastroso no mercado de tecnologia. A Nokia praticamente desapareceu do mercado, e os seus quase 25 mil funcionários já haviam sido demitidos em um período de 3 anos.
M&A e decisões estratégias
As fusões e aquisições são altamente estratégicas para gerar receita e criar novos mercados para uma empresa em processo de consolidação.
Inúmeras variáveis estão em jogo, e muitas delas são difíceis de serem previstas. Assim, é preciso ter em mente que o dinheiro empregado para isso é o chamado capital de risco. Muitas empresas desapareceram nos últimos anos como resultado dessas negociações, mas as mais estratégias, dominaram o seu mercado.